Reportagem: Wilton Junior
Fonte: Jornal Correio do Estado
Nascida no dia 24 de agosto de 1907, na zona rural de Macarani (BA), dona Isnar Alves de Almeida completou 114 anos de idade e ainda hoje esbanja simpatia, saúde, sabedoria e muita sobriedade. Ex-cozinheira, ela é considerada uma das pessoas mais idosas do País, conforme dados do último Censo Demográfico de 2010, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), sendo que a próxima pesquisa ocorrerá apenas em 2020.
Há anos, essa simpática senhorinha chegou em Linhares com o marido para trabalhar na roça e, depois, como cozinheira. Atualmente, dona Isnar, também conhecida por ‘Neném’, é viúva e mora com um neto no Centro de Sooretama. Ela conta que ao chegar ao local onde reside até hoje, havia apenas uma casa de tábua em um dos lados da estrada de chão onde, atualmente, é a rodovia BR 101 – Norte, que cruza a cidade. Acrescenta que na juventude não havia as novidades que, agora, atraem tantas pessoas, como as redes sociais, entre outras tecnologias. “No meu tempo era tudo muito bom, porque não tinha esses telefones da modernidade que afastam a juventude da família. A gente não via filho contra o pai, as desavenças de rotina e essa violência na rua”, disse dona Isnar.
A ex-cozinheira lembra que, após os estudos, era tradição as crianças e jovens ficarem boa parte do tempo dentro de casa com os pais e familiares, ou ajudarem na roça. “Quando eu era nova, ia com meu pai para a roça, capinar, plantar de tudo, e não tinha essas desobediências dos dias de hoje quando vemos os jovens na rua, morrendo tão cedo, devido à falta de educação, o uso de droga e a mente vazia”, lamentou.
“Pensei que era coisa de outro mundo”
“O lazer era visitar os amigos andando à pé, à cavalo ou nos burros velhos pelas estradas de chão. Quando vi o primeiro automóvel eu tinha uns 10 anos. Pensei que era alguma coisa de outro mundo. Já o primeiro avião, com umas luzinhas piscando, botou todo mundo para correr. Muitos caíram para dentro do mato, com medo. Mas é invenção que veio para ajudar o povo”, avaliou.
Dona Isnar relata também que teve três ex-maridos e que todos faleceram, mas mesmo com a idade avançada e, já após os 100 anos, teve um pretendente que tentou conquistá-la. “Era um mascate que saía de Linhares para vir aqui em Sooretama, mas coloquei ele para correr. Tentava me agradar com as coisas que vendia (risos)”. O segredo dessa vitalidade e longevidade está na felicidade e o sorriso no rosto que sempre acompanham a dona Isnar. “Para viver muito, é preciso ser feliz, conservar a saúde, ter fé em Deus, além de conviver bem com a família”, aconselha a idosa.
Comida saudável e chás naturais na dieta

Para alcançar tamanha longevidade, dona Isnar de Almeida conta que faz da alimentação saudável e do uso de chás naturais, seus principais aliados. “Fui uma menina muito bem tratada, não tinha carne gelada. Era tudo fresquinho. Matava o boi, o porco ou a galinha e botava a carne no sal e comia. Usava também a banha de porco no lugar do óleo de cozinha. Como de tudo, muita verdura, fruta, mas não sou chegada ao arroz. Naquela época, o povo tinha mais saúde e morria de velhice”, comentou.
Ela acrescenta ainda que indica algumas plantas para amigos, familiares e vizinhos. “Hoje, tenho certeza que os matos são a cura para muitas doenças. Isso, eu trago comigo pela vida. Não sinto uma dor de cabeça. Se for o caso, faço um chá de mato, mas não tomo remédio de farmácia, a não ser medicamento para a pressão arterial”, indica a idosa.
Apesar da idade avançada, ela garante ter uma memória que não falha. “Tenho uma memória melhor do que a de muitos jovens, na idade que estou era para esquecer as coisas. Ter a alimentação saudável vem me ajudando a ficar com a cabeça boa”, é o que afirma a dona Isnar.
Fé e perseverança para superar o câncer
Ao longo da vida, dona Isnar de Almeida sempre foi uma pessoa bastante saudável, mas aos 105 anos, passou por momentos difíceis, ao descobrir um tumor na cabeça. “Hoje, sou uma mulher de muita saúde, mas já passei por uma dificuldade que nem os médicos achavam que eu iria superar. Mas, com muita oração e crença em Deus, consegui vencer um câncer e estou aqui para contar minha história”, comemora. Dona Isnar contou com o apoio de muita gente e também dos familiares na batalha contra o câncer. Ela tem um filho adotivo e quatro netos que deram suporte para que a idosa superasse, mesmo com a idade já avançada, um dos principais obstáculos da vida.
Por amor à minha família, Deus me deu forças para continuar ao lado do meu filho e dos netos. Sempre fui muito positiva e perseverante, mesmo diante das dificuldades”, concluiu dona Isnar.
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