Um projeto social inédito, que começou a ser desenvolvido em Linhares no final do mês de setembro por um grupo de profissionais voluntários, pretende mudar o olhar da sociedade local para as pessoas que vivem em situação de rua no município.
‘O Papo é Pop – alusão a população de rua’, como foi batizado o projeto, se propõe a abordar um tema delicado, repleto de paradigmas e preconceitos. A intenção é sensibilizar e conscientizar a sociedade para o drama e as diversas causas que levam pessoas a perder completamente a identidade, passando a ter como única referência as ruas. A iniciativa conta com o apoio da Secretaria de Assistência Social da Prefeitura de Linhares.
O desejo de realizar uma ação social voluntária, que pudesse fazer a diferença na vida das pessoas, nasceu no coração dos amigos e psicólogos Marcos Fernandes e Gilvânia Márcia da Silva Pereira, ainda na faculdade. “Compartilhávamos do mesmo sonho. Inicialmente, pensávamos em montar um consultório itinerante para atender pacientes carentes”, lembra Marcos.
O projeto começou a ganhar forma e a se tornar realidade a partir da parceria com a assistente social e coordenadora da Casa da Acolhida de Linhares, Núbia Elizabeth, que sonhava parecido. Junto com ela, também abraçaram a iniciativa Rayani Batista Pereira dos Santos Loyola, Anna Carolina Pereira Barbosa, Jordânia dos Santos Batista e Jenifer Pagung.
À exceção de Gilvânia, todos os envolvidos no projeto atuam na Casa de Passagem e convivem diariamente com o drama e a rotina de moradores de rua. O local tem capacidade para atender a 50 pessoas de maneira rotativa e, somente neste ano, até o momento, mais de 750 pessoas já foram acolhidas e passaram pela casa. Uma equipe de abordagem, coordenada por Atila Mara Neves Gomes de Souza, age diretamente junto à essas pessoas nas ruas.
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“Nós não podemos naturalizar as pessoas em situação de rua, achar normal a forma como vivem. Essas pessoas não podem se tornar invisíveis ao nosso redor”, ressalta Marcos Fernandes.
O psicólogo acrescenta que a proposta do projeto é ajudar a quebrar paradigmas e a acabar com preconceitos que induzem a sociedade a achar que todos os moradores de rua são marginais e representam ameaça. “Existem alguns que se aproveitam dessa condição e outros que se infiltram entre essas pessoas em situação de rua para cometer crimes. A maioria não é delinquente”, explica.
Outro objetivo é despertar as pessoas em situação de rua para os seus direitos. Muitos não têm conhecimento de seus direitos ou se acham incapazes de busca-los em razão da situação em que vivem. “Queremos aproximar a população de rua dos serviços públicos oferecidos no âmbito da atuação da Secretaria Municipal de Assistência Social e do Sistema Único de Assistência Social”, destaca Núbia Elizabeth.
A chance de um morador de rua deixar essa condição passa diretamente pela mudança de visão e participação direta da sociedade, na avaliação da psicóloga Gilvânia Márcia da Silva Pereira. “Alguns não querem deixar as ruas, mas muitos querem e não conseguem pelas dificuldades que lhes são impostas. Nesse contexto, a participação da sociedade é fundamental, principalmente na reinserção ao trabalho e à família”, observa ela.
O Papo é Pop foi lançado oficialmente no dia 28 de setembro, com a realização do primeiro evento aberto ao público, na praça do bairro Shell. O encontro, com apresentações musicais, teatrais e palestras, contou com a presença de membros da comunidade, de profissionais da assistência social e de algumas pessoas em situação de rua. Uma dessas pessoas, de maneira espontânea, pediu para cantar uma música e emocionou a todos no encerramento do evento.
De acordo com Marcos Fernandes, os eventos serão realizados em ciclos, com temas e abordagens específicas. Neste primeiro ciclo estão previstas a realização de mais três encontros até o final do ano: na praça do bairro Interlagos II, na próxima quarta-feira (27); no bairro Aviso, no dia 24 de novembro; e no bairro Conceição, em 15 de dezembro.
O evento no Interlagos, na próxima quarta-feira (27), a partir das 19 horas, terá palestras, peça teatral e apresentação do grupo Cantarolar. A programação é aberta ao público.
A partir do segundo ciclo, em 2022, a ideia é levar o projeto para escolas do município.
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