Por José Carlos Leite
Linhares se despede neste domingo (10) de um dos personagens mais importantes de sua história. Está sendo velado na Igreja Batista Memorial, no Centro da cidade, o corpo de Waldemar Borges da Silva, precursor do desenvolvimento do município, a partir do início da década de 1950, quando aqui chegou egresso de Mundo Novo, no sertão da Bahia.
Waldemar Borges faleceu no sábado (9), aos 90 anos de idade, em um hospital de Linhares. O sepultamento está marcado para as 13 horas no Cemitério São José, no bairro Novo Horizonte.
Quem teve a honra de conhecer e conviver com Waldemar Borges da Silva guarda na memória um homem de semblante sereno, dócil e gentil no trato com todos, que não se ensoberbecia com a posição e o impressionante patrimônio que conquistou com muito suor e trabalho em terras linharenses. Era comum encontrá-lo caminhando calmamente pelas ruas da cidade, sempre cumprimentando a todos.
No início dos anos 2000, trabalhando no Jornal O Popular, tive o prazer de conviver intimamente com Waldemar Borges. A redação do jornal funcionava anexa à sede do Sindicato Rural de Linhares, na Avenida Jones dos Santos Neves. O escritório da WBS Agropecuária ficava em frente, ao lado da Lanchonete Caliman (até hoje está no mesmo local). Durante um bom tempo, todos os dias, antes de iniciar a jornada de trabalho, o café e o bate papo com ele para ouvir suas histórias era sagrado. Sempre fui muito bem recebido, com se fosse um de seus pares.
Waldemar Borges da Silva ajudou a consolidar o desenvolvimento de Linhares, participando de momentos e ações marcantes para o município, ao mesmo tempo em que se tornava um dos maiores agropecuaristas do Espírito Santo. Ele foi um dos ícones e precursores da produção cacaueira na região.
Uma matéria publicada pelo Site de Linhares resume a inspiradora trajetória do baiano que conquistou sucesso e proeminência ao desbravar as terras linharenses.
Natural de Mundo Novo, no sertão da Bahia, Waldemar Borges da Silva nasceu em 03 de junho de 1933 e já aos 17 anos seguiu os passos dos conterrâneos que migravam para os grandes centros em busca de oportunidades para crescer na vida.
A convite do amigo Augusto Oliveira, Waldemar aceitou o desafio, não de encarar a cidade de São Paulo, mas de vir para a pacata Linhares, no ano de 1951. Naquela época, a cidade se limitava à Rua da Conceição, como ele mesmo lembrava. “Sou da época que Linhares possuía uma única rua, e a energia elétrica era desligada todos os dias às 20h30”.
Por aqui, Waldemar Borges da Silva permaneceu por dois anos, como empregado da Casa Progresso, de propriedade de João Gama. Destemido e cheio de vontade de ter suas próprias terras, decidiu aceitar a proposta de desbravar o estado do Mato Grosso, em 1953.
“Na época, os interessados ganhavam terras para cultivo e pecuária. No entanto, o terreno que me foi concedido era muito distante de Cuiabá. Pelo menos seis dias de viagem. Insisti por um ano e meio, mas decidi que o melhor seria retornar à Linhares”, contou.
Na viagem de volta ao Estado, uma parada em São Paulo garantiu a subsistência do futuro cacauicultor por um bom tempo. Waldemar fez uma compra de roupas e relata que vendeu as confecções “como água”. “Ganhei muito dinheiro, mas a vontade de trabalhar no campo era maior. Foi aí que decidi ir para o Paraná, mas novamente surge a figura do meu amigo Augusto Oliveira na história da minha vida. Ele me convenceu a permanecer em Linhares e ainda me arrumou um emprego na Casa Oliveira”, detalhou.
Ocupando a função de balconista, Waldemar Borges permaneceu por 11 anos na loja que vendia de tudo um pouco. Neste ínterim, ele recebeu a proposta de vender seguros de vida, pela empresa Sulamérica. A rotina de Waldemar dividiu-se então no comércio durante o dia e nas vendas noturnas de seguros.
Será que valeu a pena? “O que entrava da Sulamérica foi para a poupança, até que juntei o suficiente para comprar meus primeiros 18 alqueires de terra e plantar 18 mil pés de cacau em1958’, contou ele.
Nesta época, Waldemar já estava casado e em 1959 foi eleito vereador pela primeira vez. O início de uma carreira de sucesso e de uma vida em família não foi nada fácil para o cacauicultor. ‘Minhas primeiras terras foram adquiridas em Bananal do Sul. Eram 27 quilômetros de distancia de Linhares, e eu fazia o percurso de bicicleta. Era uma luta que enfrentava todos os finais de semana, já que de segunda a sexta, permaneci na condição de balconista’, lembrou.
Em 1965, quando exercia seu segundo mandato como vereador, surgiu uma nova oportunidade na carreira de Waldemar. Ele saltou de empregado para empresário: comprou uma filial da Casa Oliveira e abriu a Casa Borges. “O lucro do comércio era a garantia da subsistência da minha família, já que investia todo lucro da cacauicultura em terras”, disse.
Waldemar Borges da Silva foi vereador por mais um mandato e logo em seguida se candidatou a prefeito. Seu principal rival, Samuel Batista Cruz, ganhou a eleição com uma diferença de 361 votos. Apesar de não ter sido agraciado com a função de chefe do executivo, ele deixa um legado de grandes contribuições para Linhares.
Foi um dos fundadores e primeiro presidente do Sindicato Rural de Linhares, tendo ajudado na construção da sede da entidade, no Centro da cidade. Também fundou a Cooperativa Agropecuária Mista de Linhares – CAMIL, ajudou a fundar o Hospital Rio Doce, Guararema Clube, Cooperativa Sicoob, além de ter sido um dos responsáveis pela drenagem da bacia Suruaca, entre outros importantes feitos.
A perda prematura do único filho homem, Wolmar Borges da Silva, assassinado no início de 2020, após uma desavença com um vizinho de terra, foi um baque pesado que talvez o forte Waldemar não tenha superado em vida. Ele deixa duas filhas – Braulina e Marize, além de netos.
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