Moradores de comunidades da zona rural de Sooretama estão revoltados com a Prefeitura local e o Governo do Estado em razão do processo de municipalização das últimas escolas de ensino fundamental pertencentes à rede estadual no município.
A medida, já iniciada, ameaça extinguir pelo menos quatro pequenas escolas uni e pluridocentes localizadas no interior de Sooretama: a EEPEF Córrego do Rodrigues; a EEPEF Fazenda Domingos Correia, em Joeirana B; a EEPEF Joeirana A e a EEUEF Córrego Patióba.
As chamadas ‘escolas do campo’ são multisseriadas – na qual o professor trabalha, na mesma sala, com alunos das várias séries do ensino fundamental, simultaneamente – e oferecem um ensino diferenciado, inclusive com uma disciplina voltada para a agricultura e a vivência na roça.
Uma Comissão de Pais de Alunos foi formada para lutar contra o provável fechamento das escolas. O grupo afirma que a intenção da Prefeitura é deslocar os alunos das quatro localidades para a Escola Estadual de Ensino Fundamental Regina Bolsanello Fornazier, que também será municipalizada, no distrito do Juncado. Um claro indício do fechamento, aponta a comissão, é o fato de não terem liberado, ainda, as rematrículas e matrículas novas para o próximo ano letivo.
Revoltados, os pais acusam o prefeito de Sooretama, Alessandro Broedel, de não honrar a palavra em compromisso assumido com as comunidades, durante uma reunião no final de 2019.
“O prefeito garantiu que a municipalização não era prioridade de sua administração e que não fecharia nossas escolas. Ele inclusive assinou a ata da reunião, que registra o seu compromisso. Agora, está fazendo tudo por debaixo dos panos, sem ouvir a população. A única coisa que recebemos foi um comunicado por escrito da Superintendência Regional de Educação de Linhares, informando da municipalização, no início deste mês”, lamentaram.
A comissão também acusa a superintendente Regional de Educação de Linhares, Leila Pinto Rodrigues, de tentar impor aos pais o fechamento das escolas desde o mês de junho último, alegando que as aulas presenciais não seriam retomadas nas unidades por falta de estrutura para cumprir os protocolos sanitários de prevenção da covid-19. Mesmo contra a vontade da Superintendência, as escolas foram reabertas em 13 de setembro e nenhum caso de covid foi registrado.
“Entendemos que não é possível impedir o processo de municipalização, mas não aceitamos o fechamento das nossas escolas. Isso é crime! E a lei garante às nossas crianças o direito de estudar o mais próximo possível de suas casas. Queremos nossas escolas abertas e rematrículas já”, afirmam os pais.
O fechamento das escolas do campo no interior de Sooretama, caso se confirme, vai expor várias crianças de 6 até 9 anos de idade a uma dura rotina diária, tendo que percorrer até 40 quilômetros (ida e volta) de ônibus, junto com adolescentes maiores, para estudar longe do ambiente a que estão acostumadas.
Escolas do campo fazem parte da história das comunidades
Ameaçadas de extinção, as pequenas escolas do campo em Sooretama estão associadas ao memorial e à história das comunidades onde estão inseridas. É o que destaca a produtora rural Jaqueline Bozi, líder comunitária em Joeirana A.
A Escola Estadual Pluridocente de Ensino Fundamental Joeirana, por exemplo, existe há mais de 60 anos. Assim como as demais do interior do município, foi construída no pátio da Igreja Católica da localidade. Jaqueline lembra com orgulho de ter estudado na escola durante a infância, assim como inúmeros outros moradores da região.
“Nosso município tem sua base no agronegócio e como tal deveria preservar nossas raízes no campo. Mas, ao invés disso, temos uma administração que intenta acabar com uma cultura enraizada em nossas comunidades”, lamentou Jaqueline Bozi.
“O que está acontecendo é uma imposição. A comunidade não está de acordo e não está sendo ouvida. O prefeito, como gestor, deveria estar aberto ao diálogo. Mas, infelizmente, não estão preocupados com os interesses da população”, completou a produtora rural e líder comunitária.
Por meio de ofício, o prefeito Alessandro Broedel foi convidado para uma nova reunião com a Comissão de Pais, marcada para a última segunda-feira (22). Além dele, foram convidados o secretário de Estado da Educação, Vitor Ângelo, a superintendente regional Leila Rodrigues e a secretária Municipal de Educação, Raquel Felipe. Ninguém compareceu.
Na sede, municipalização atinge a escola mais antiga da cidade
Na sede de Sooretama, o anúncio da municipalização também não agradou aos pais de alunos do mais antigo estabelecimento educacional da cidade, a Escola Estadual de Ensino Fundamental Alegre, localizada no bairro Alegre, também atingida pela medida prevista pelo Regime de Colaboração firmado entre o Governo do Estado e a Prefeitura Municipal.
Os pais de alunos receberam o comunicado da própria escola, informando que as rematrículas para o ano letivo de 2022 seriam efetuadas pela Rede Municipal de Ensino.
Por meio de uma rede social, uma mãe desabafou: “A quem interessa isso? Minha filha passou por uma escola da Prefeitura e não evoluiu nada. Já na escola estadual, rapidamente aprendeu a ler e escrever”, disse ela, questionando a qualidade do ensino oferecido na rede municipal.
Ex-vereador detona postura do prefeito
O ex-vereador Edson Isidoro Ferreira Campos, que é pai de uma aluna da Escola Alegre, usou suas redes sociais para criticar duramente a postura do prefeito Alessandro Broedel em relação ao processo de municipalização das escolas estaduais.
Edson Isidoro acusou o prefeito de ceder aos interesses do governador Renato Casagrande e de barganhar a municipalização em troca da liberação de uma verba superior a R$ 5 milhões, por meio do FUNPAES (Fundo Estadual de Apoio à Ampliação e Melhoria das Condições de Oferta da Educação Infantil no Espírito Santo). A própria administração municipal anunciou recentemente os recursos, da ordem de R$ 5,7 milhões, informando que o montante será utilizado na construção de duas novas escolas na cidade.
“Ele aceitou o dinheiro do Governo do Estado e, covardemente, não manteve sua palavra com os pais de alunos de várias escolas, da zona urbana e também da zona rural. É um covarde, pois esperou ser reeleito antes. Se fosse honesto, teria tratado a situação ainda em seu primeiro mandato. Ele espera o momento de aplicar o golpe, de forma que as vítimas não sintam o ataque, mas apenas o efeito do veneno”, desabafou Edson.
De acordo com o ex-vereador, a Escola Alegre, sob a gestão da Rede Estadual, é referência em qualidade do ensino e aprendizagem dos alunos. “Tenho uma filha nesta unidade estudantil e posso dizer que sou muito satisfeito e grato pelo trabalho realizado pela equipe pedagógica”, elogiou.
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