Um dos principais empresários do ramo de comércio de café no Norte do Estado, Alfredo Giuberti analisou o cenário atual do mercado de café no País e revelou projeções do que pode ocorrer nos próximos meses, em entrevista aos jornais O Popular e Norte Capixaba Online. Alfredo é fundador e diretor proprietário da Giucafé Armazéns Gerais e Corretora, tradicional empresa do segmento, sediada em Linhares, com mais de 40 anos de atuação na região.
Conforme explicou o empresário, após uma safra recorde de 70 milhões de sacas em 2020/2021, a produção brasileira de café, principalmente de Arábica, sofreu uma redução abrupta na safra seguinte (2021/2022), quando foram colhidas apenas 54 milhões de sacas. Intemperes como geada e seca em regiões produtoras de Arábica derrubaram quase pela metade a produção esperada.
Esse, aliado a outros fatores, de acordo com Alfredo Giuberti, fizeram disparar os preços do Arábica no mercado internacional entre o segundo semestre de 2021 e o início deste ano. Por esta razão, as indústrias que abastecem ao mercado interno elevaram de 50% para até 80% o percentual de mistura de café Conilon ao Arábica para torrefação, ajustando para cima também o valor da saca do Conilon, que chegou ao pico de ser negociada a R$ 850. Com a chegada da safra 2022/2023, os preços recuaram e vêm oscilando, nos últimos meses, entre R$ 680 e R$ 730.

A expectativa do mercado para o fechamento da safra 2022/2023 é de uma produção pouco superior à do ano anterior, na casa dos 58 milhões de sacas, sendo 38 milhões de Arábica e 20 milhões de Conilon. Hoje, segundo Alfredo Giuberti, praticamente toda a produção brasileira de Conilon é absorvida pelas indústrias de torrefação e de produção de café solúvel para exportação. Cerca de 90% do café solúvel produzido no País é destinado à exportação, acrescenta Alfredo.
“O Brasil quase não tem exportado café Conilon in natura. O baixo preço do produto no mercado externo, com base na cotação da Bolsa de Londres, e os elevados custos para a exportação fazem com que o valor pago atualmente pelas indústrias seja muito mais atraente para os produtores”, explica o empresário.
Alfredo Giuberti exemplifica que hoje os produtores têm negociado a saca do Conilon para as indústrias no mercado interno ao preço de U$ 136 dólares ou R$ 710 na conversão para o real, enquanto que o Vietnã vende a saca no comércio exterior a U$ 116 dólares. “A diferença é de mais de R$ 100 por saca no bolso do produtor. Com a falta de Arábica no mercado, as indústrias optam por pagar mais caro no Conilon para não terem que importar café de fora”, ressalta.

Fatores climáticos
Questionado sobre a tendência atual do mercado, se é de queda ou de elevação nos preços do café, Alfredo Giuberti salientou que, a curto prazo, fatores climáticos é que devem determinar o valor do produto nos próximos meses. “Se o tempo for bom, com chuva no tempo certo e não ocorrer nenhuma catástrofe natural, a safra de 2023/2024 tende a ser recorde. Essa simples premissa de uma nova safra recorde pode derrubar os preços a partir do mês de outubro”, esclarece.
Contudo, o período de estiagem que se prolonga nas regiões produtoras de Conilon e Arábica, com alerta de escassez de chuvas nos próximos meses, pode ocasionar exatamente o efeito contrário, aquecendo os preços, conforme o que já vem sendo registrado nos últimos dias. “É sempre um cobertor curto. Se o produtor ganha em preço, perde em produtividade, e vice-versa”, lamenta Alfredo.

Outros fatores influenciam diretamente na oscilação dos preços do café. O empresário citou, entre outros exemplos, o momento conturbado da economia mundial, com inflação e juros altos nos Estados Unidos e Europa; a guerra entre Ucrânia e Rússia, dois países que são grandes consumidores de café solúvel, e até mesmo a proximidade das eleições presidenciais no Brasil.
“Com os juros em alta, os investidores liquidam commodities para aplicar no mercado financeiro e isso também provoca queda nos preços do café, que é uma das principais commodities do mercado”, alerta Alfredo.
O Brasil é o maior produtor mundial de café, com 58 milhões de sacas (números da safra 2022/2023), seguido do Vietnã, com 31 milhões de sacas, e da Colômbia, com 14 milhões de sacas.
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